SOB A INSPIRAÇÃO FRANCISCANA

REVISTA  ECOLÓGICO – EDIÇÃO Nº 82 – PAGS. 52 A 55

ECOLÓGICO | JULHO DE 2015

SOB A INSPIRAÇÃO FRANCISCANA

Criação da Associação Nacional da Indústria do Tijolo Ecológico (Aniteco) integra e fortalece um dos setores com foco em sustentabilidade que mais crescem no país

 Luciano Lopes
redacao@revistaecologico.com.br

O “I Encontro Nacional da Indústria do Tijolo Ecológico” (Eniteco), realizado entre 29 e 30 de junho último no Cine Theatro Brasil Vallourec, em BH, reuniu empresários, fornecedores e técnicos do segmento de blocos modulares de solo-cimento – mais ANITECOconhecidos como tijolos ecológicos – para compartilhar experiências e debater melhores práticas de negócios e processos para o setor seguir avançando. Profissionais de oito estados participaram do evento – Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Goiás, São Paulo, Espírito Santo e Espírito Santo. Durante os painéis e fóruns que integraram a programação do Eniteco, foram discutidos desde canais de financiamento até caminhos de normatização e certificação, bem como aspectos legais e de representatividade.

“Antes, o que existia era apenas um intercâmbio informal. Nunca houve, na história do segmento, um evento assim. O nível dos participantes era muito alto. No final, o que percebemos foi que há muito trabalho a ser feito, uma vez que o mercado de tijolos ecológicos só não está melhor por falta de financiamento”, afirma Ruston Albuquerque, diretor-presidente da Terramax.

Organizado pela empresa em parceria com a Kamonga Desenvolvimento Empresarial e a Miranda Cruz Associados, o evento também contou com o apoio da Revista Ecológico, Vallourec, Regere Alianças Estratégicas, Boulevard Hotéis e Rede Metrológica de Minas Gerais (RMMG).

GRUPO NA ANITECO

CONQUISTA NACIONAL

O principal passo para conquistar mais espaço no setor brasileiro da construção civil, de forma sustentável, foi dado logo no primeiro dia do evento: a criação da Associação Nacional da Indústria do Tijolo Ecológico (Aniteco). “Com ela, ganhamos uma representatividade formal que não tínhamos. Apesar de nossa atividade ser peculiar, ela não é vista como tal. E a Aniteco nos permitirá, inclusive, promover a real distinção e diferenciação de nosso produto. Não podemos ser confundidos com fabricantes de tijolos de cerâmica”, ressalta Ruston Albuquerque, eleito presidente do Conselho de Administração. Ele informa também que os processos de produção dos tijolos ecológicos e os produtos em si são completamente diferentes dos tradicionais – a secagem, por exemplo, é natural, sem uso de fornos. “Além disso, não podemos estar sob a mesma regulação ambiental, pois não há nenhuma singularidade [entre os processos de produção]. Conheço caso de colegas que foram autuados por órgãos públicos ambientais em que o fiscal afirmou que eles não se adequavam ao que está na norma ambiental vigente, que abrange apenas o modelo tradicional. No entanto, não soube nem que tipo de autuação aplicar.” E questiona: “Como se adequar a um padrão de atividade que não é o nosso? Não há nem políticas de incentivo fiscal ou diferenciação tributária do nosso produto para outro que gera dano ambiental”.

A eleição dos membros dos Conselhos de Administração e Fiscal e da Secretaria-Executiva da Aniteco, bem como a análise e a aprovação do estatuto da associação, também foi feita durante o evento. A entidade conta com cinco grupos de trabalho estruturados para desenvolver ações com foco no aperfeiçoamento tecnológico do produto, sua aplicação técnica, promoção, regulação e novas soluções. São os comitês de Normatização e Certificação; de Comunicação Institucional; de Mobilização Associativa; de Tecnologia; e de Legislação e Meio Ambiente.

INSTITUIÇÕES E MERCADO

Willian Palestra
WILLIAN CORRÊA: “O tijolo ecológico é uma nova realidade para a construção civil”

Para atuar de forma propositiva e direcionada, é preciso também entender qual a melhor forma de se posicionar e interagir com o mercado. Nesse sentido, a presença do jornalista Willian Corrêa, âncora do principal telejornal da TV Cultura, no Eniteco, agregou ainda mais valor ao debate. A convite da organização, ele proferiu a palestra “Comunicar para Liderar”, e buscou inspiração em São Francisco de Assis para mostrar a melhor forma de atuar e se destacar no mercado. “O Santo vivia sob três regras básicas: simplicidade, desapego e paciência. Quando se pratica isso dentro de uma organização, você consegue fazer com que um simples projeto se transforme em um objetivo de todos”, ressaltou.

O conceito foi traduzido em uma espécie de lema pela Aniteco. No palco foi estendido um imenso painel com a inscrição “Juntos Somos mais Fortes”, o que já mostrava que a associação começou trilhando o caminho certo. O jornalista ponderou também o quanto é importante pesquisar o ambiente em que a organização pretende atuar. “É preciso conhecer bem a região, a cultura, os costumes, as práticas, o comportamento mercadológico e as relações políticas e econômicas, bem como a infraestrutura que já existe. Ou seja, procure saber tudo sobre a tribo que você quer entrar, para, assim, construir uma relação de confiança e troca mútuas com seus clientes e parceiros. Ninguém pode comprar o seu produto achando que não está levando vantagem.” E completou: “O que vocês da Aniteco fizeram aqui hoje, reunindo todos numa convergência em torno de um produto que é inovador, é de extrema importância. A área de construção civil está em queda, e ela está procurando novas realidades. E uma delas é o tijolo ecológico, que é mais barato e ambientalmente correto. Por isso, é fundamental ir até os parceiros com ideias interessantes assim e que os estimulem a fazer parte do negócio.”

DE MINAS PARA O BRASIL

Em nosso país, a produção de tijolos de baixo custo teve início na década de 1970. Com a expansão imobiliária nos anos seguintes, motivada também pela necessidade de equacionar o déficit habitacional do país – em 2013, ele foi estimado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em 6,49 milhões de domicílios-, incorporar o viés da sustentabilidade na construção civil era uma medida essencial nesse cenário de demanda em larga escala. Ao longo dos anos, os tijolos ecológicos se fortaleceram como uma alternativa sustentável para o setor, tendo em vista que ele proporciona para a obra uma economia de até 50% nos custos em relação ao sistema construtivo tradicional. Isso sem contar os benefícios ambientais (veja no Box da página ao lado).

Ruston Terramax
RUSTON ALBUQUERQUE: “Com a ANITECO, o setor agora ganhou mais força e representatividade formal”

“A cada mil tijolos ecológicos que são produzidos, de sete a 12 árvores são poupadas”, diz Ruston Albuquerque. Expert quando o assunto são esses blocos, ele também ministra oficinas e cursos de construção sustentável em instituições como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), na capital mineira. A experiência de Ruston vem levando a Terramax, empresa fundada por ele há dois anos com a publicitária Ethel Kacowicz, a quebrar paradigmas no meio empresarial quanto à utilização do tijolo ecológico. E, principalmente, de se investir cada vez mais no segmento. “A maior resistência que temos de vencer é a barreira cultural. As organizações e seu corpo gerencial devem ver o produto com valor institucional, como algo estratégico. As comunidades de influência e de negócio não perceberão isso com calculadoras nas mãos, mas com a compreensão holística de que investir em uma tecnologia sustentável de construção irá gerar valor econômico, ambiental e social”, aponta.

Pelo fato de os tijolos ecológicos serem também produzidos utilizando areia, resíduos siderúrgicos, petroquímicos e minerários, parcerias com nstituições desses setores são essenciais para reduzir o impacto de outro vilão que assola o meio ambiente: os passivos ambientais dessas atividades. “Essas empresas já são sensíveis quanto à importância de nosso produto, mas falta entender que é possível e mais fácil investir do que imaginam. E mais viável do que querem admitir”, reforça o diretor-presidente da Terramax.

PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL

É perfeitamente possível, por exemplo, construir uma estrutura de produção de tijolos ecológicos dentro de uma planta de mineração, transformando o seu passivo ambiental em ativo econômico. “Sem contar que a empresa estará fortalecendo um outro nicho de mercado que contribui para a preservação da natureza e gera emprego e renda.”

Atualmente, a Terramax produz mais de 60 mil tijolos por mês. Com a comercialização de 100% do que vem sendo fabricado e registrando crescimento de 40% em relação ao ano anterior, a empresa pretende expandir a sua capacidade instalada de produção para 110 mil unidades. Imprescindível destacá-la, também, como player de serviços: oferece soluções completas para a construção, incluindo a produção e venda de tijolos, entrega em qualquer lugar do país, desenvolvimento de projetos, além de treinamento de pessoal, acompanhamento da obra e assistência técnica. Há ainda os investimentos em inovação. Segundo Ruston, já está sendo testado um modelo de tijolo ecológico feito com vidro refratário de lâmpada. Depois de descontaminado, o material é triturado e agregado ao produto, que fica mais leve, denso e com maior resistência mecânica. “E visualmente mais bonito, porque brilha”, completa.

Tijolos Ecológicos
100 MIL tijolos ecológicos TERRAMAX estão sendo utilizados na construção de um galpão da siderúrgica ARCELOR MITTAL em Sabará (MG)

Os atributos dos tijolos ecológicos e as vantagens competitivas de suas eficientes técnicas construtivas são diferenciais que vem sendo percebidos e assimilados por empresas de destaque no mercado. São importantes marcas do cenário empresarial, como a siderúrgica Arcelor Mittal, que recentemente empregou mais de 100 mil blocos para a ampliação de suas instalações em Sabará (MG). E a CNH, que já utilizou mais de 30 mil blocos (Tijolos Ecológicos) na construção da sede do “Projeto Próximo Passo”, da montadora IVECO, em Sete Lagoas (MG). Dois exemplos concretos de que o setor ainda tem um futuro sustentável – e promissor – pela frente.

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